Para Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro e pesquisadora do IBRE FGV, é preciso saber se vai se concretizar em ações
Por Carolina Nalin — Rio
Para Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro e pesquisadora do IBRE FGV, será preciso saber se o discurso do novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, irá se concretizar em ações. Sobre os gastos do governo, o que preocupa mais, diz, é se o déficit será temporário ou duradouro.
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Independentemente do governo, 2023 já seria um ano difícil, com desaceleração econômica mundial, um contexto muito mais adverso de combate à inflação aqui e lá fora. E tem um partido que vem com uma expectativa grande de soluções rápidas para problemas distintos: volta do crescimento, do emprego, com controle de inflação e responsabilidade fiscal gastando muito.
Ou seja, tem uma certa inconsistência. O discurso de Haddad não aprofundou os detalhes em relação aos desafios, mas mostra uma preocupação maior de que não há bala de prata. Um dos desafios é que a política monetária vai continuar muito apertada, ao mesmo tempo em que a política fiscal é expansionista.
Ainda assim, o discurso, que prezou pela harmonização da política fiscal e monetária, não é desconectado. É um discurso bom diante do contexto de tantas notícias ruins.
Qual seria o caminho?
O Estado tem que ser bem gerido e, ao mesmo tempo, sustentável. Se o governo disser que vai gastar mais de 2% do PIB, mas que vai arrecadar mais 2% do PIB para não ter déficit, posso não gostar, mas ele pelo menos está mostrando que está achando recursos. O que nos preocupa é que um desses fatores que ajudariam aliviar esse déficit seria a recomposição dos impostos.
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E aí você tem a Fazenda preocupada em reduzir o déficit de largada. No entanto, quem ganhou o debate foi a ala política. Essa foi uma primeira sinalização de que não está claro quem definirá a política econômica. A ala política venceu uma discussão que deveria ser mais econômica neste momento, dado o fiscal muito negativo.
O déficit pode chegar a 2% do PIB. A pergunta é: será que só por alguns meses? E mais: quando tiver de tomar decisões mais negativas do ponto de vista político, será que o Haddad vai ter força? Acho que esse foi o primeiro revés em relação a esse lado, digamos, mais positivo do discurso de Haddad.
E qual é o risco?
Quando não se tem sustentabilidade fiscal, há uma expectativa de subida da dívida. Como os juros já são altos, isso levaria a dívida a um patamar maior. E pressiona o cenário inflacionário, porque perde a credibilidade e a sustentabilidade fiscal. A inflação já está se desgarrando da meta.
Mas acredito que o discurso de credibilidade, previsibilidade e estabilidade (de Lula) tende a ganhar mais força com os novos ministros, com Simone Tebet e Geraldo Alckmin.