Luiz Carlos Trabuco Cappi
Presidente do Conselho de Administração do Bradesco
A economia global está enfrentando seu maior teste desde a Segunda Guerra Mundial. A pandemia, o aumento das dívidas públicas, as altas da inflação e das taxas de juros na maioria dos países, o aquecimento global, a fratura de cadeias produtivas globais, a revolução digital e as tensões geopolíticas mudaram o mundo e exigem mudanças na sua condução.
É possível fazer paralelos entre a situação de hoje e a ocorrida em 24 de outubro de 1945, há exatos 83 anos. O mundo saia da Segunda Guerra Mundial, havia milhões de refugiados e tensões geopolíticas agravando-se. Nesse dia, foi fundada a Organização das Nações Unidas, a ONU, com o objetivo de manter a paz, prestar ajuda humanitária e evitar uma nova Guerra Mundial.
Inflação em alta é um dos desafios para economia global
Inflação em alta é um dos desafios para economia global Foto: Taba Benedicto/Estadão
No cenário de alta complexidade de agora, o papel da ONU ganha relevância novamente. Sente-se falta de uma ação coordenada para alinhar os interesses de países ricos e emergentes. Atualmente, os países se organizam em grupos de afinidade por critérios econômicos referentes ao estágio de desenvolvimento (ricos e emergentes). Ocorre que os efeitos dos riscos de desaceleração global atingem a todos.
O PIB mundial deve crescer menos este ano do que o anterior e é possível que o de 2023 seja ainda menor. O endereçamento de soluções vai depender muito da atuação dos bancos centrais, das políticas fiscais e das reformas estruturais adotadas, de forma coordenada.
As pressões inflacionárias, o encolhimento do espaço fiscal, sistemas financeiros mais sensíveis a riscos e a necessidade de reduzir as emissões de carbono restringem o espaço para medidas estimulantes. A pobreza aumentou em todo o planeta por conta da pandemia e exige mais gastos sociais.
Na última década, as taxas de juros baixas, a facilidade de usar gastos públicos e os ganhos com a globalização postergaram reformas estruturais que permitiriam crescer com aumentos de produtividade em muitos países. Uma prioridade deve ser a retomada dessas reformas e outra, preparar as pessoas para esse novo ambiente.
Uma coisa é certa: o mundo não voltará a ser o que era. O risco ambiental e a escalada da guerra da Ucrânia reforçam a tese da institucionalidade da economia globalizada como um divisor de águas civilizatório que precisa ser respeitado. O futuro chega mais rápido que o esperado, e a história já nos mostrou que as escolhas feitas durante as crises moldam o rumo da civilização por muito tempo. O que se tornou fundamental foi a necessidade de trabalharmos juntos. O mundo, sempre complexo e desafiador, precisa seguir o caminho da evolução com olhar inclusivo, de modo a contemplar indistintamente todos os países.