CORREIO BRAZILIENSE / DF - OPINIÃO
CARLOS RODOLFO SCHNEIDER - Empresário, membro
do Conselho Superior de Economia da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Conselho
Estratégico da Indústria Catarinense (Fiesc)
As restrições impostas pela pandemia nos colocaram
diante de um arsenal de dificuldades e desafios. Em
graus diversos para os diferentes atores. Por outro
lado, foram criadas oportunidades, novamente, mais
para uns do que para outros, que até trouxeram
resultados excepcionais e inesperados para quem
melhor identificou e se estruturou na nova realidade.
Aparentemente, oportunidades conjunturais. Todavia,
vem se delineando uma oportunidade estrutural, de
reorganização das cadeias produtivas, em função dos
transtornos provocados pela excessiva concentração
da produção de muitos bens em poucos países. E o
Brasil pode capturar o seu quinhão nesse novo
desenho, desde que seja mais diligente numa antiga
lição de casa, que são os ajustes estruturantes.
Os dados da nossa balança comercial, no ano
passado, refletem bem o inapto do Custo Brasil na
competitividade da indústria de transformação, sem
dúvida o setor mais afetado. Apesar de o país ter
alcançado um superavit comercial recorde de US$ 61
bilhões e uma cifra inédita na exportação, de US$ 280
bilhões, a balança dos produtos manufaturados
apresentou deficit de US$ 53 bilhões, reflexo de uma
concentração crescente da nossa pauta de
exportações em bens primários.
A recuperação da competitividade da economia, em
setores em que não temos vantagens comparativas
internacionais naturais, mas que têm potencial elevado
de contribuir para o aumento da produtividade, passa
necessariamente pela redução do Custo Brasil. E isso
r e q u e r r e f o r m a s , m i c r o e c o n ô m i c a s e
macroeconômicas, em complemento às já
implementadas nos últimos seis ou sete anos. Outros
países, que competem conosco no mercado
internacional, têm sido mais determinados na
implementação de reformas, comprometendo a nossa
competitividade relativa. Avançamos pouco no
aumento da eficiência do Estado, o que o deixa obeso,
caro e fraco.
Precisamos de um poder público forte, a serviço da
sociedade, e não de si próprio. E, em assim sendo,
precisará de menos recursos para se manter (hoje em
torno de 20% do PIB), o que permitirá redução de
carga tributária. Carga, que além de muito elevada (a
maior entre os países em desenvolvimento), é mal
distribuída, com concentração excessiva na indústria
de transformação. Segundo a Confederação Nacional
da Indústria (CNI), os impostos de 46,2% que incidem
sobre o segmento, têm contribuído muito para que ele
encolhesse em média 1,6% ao ano na última década.
Entre as mudanças necessárias, importante também a
Reforma Tributária, para simplificar a caótica
estrutura de impostos no país, que custa caro às
empresas e afasta investidores.
Importantes conquistas estruturantes foram as
reformas da Previdência, no atual governo, e a
Trabalhista, no governo anterior. Mesmo que não
tenham abarcado toda a mudança que o país precisa,
representaram sem dúvida avanços a comemorar. E
temos que ter maturidade suficiente para evitar que o
calor de uma campanha política não alimente ideias de
retroceder nessas conquistas, fruto de ampla
mobilização da sociedade, sob o risco de
comprometermos ainda mais a nossa competitividade
e acentuarmos o nosso vínculo com a armadilha da
renda média. Que a Reforma Trabalhista deve ser
dinâmica, não há dúvida, mas para adequar a
legislação a uma realidade que é mutante, e muito, e
não para retrocessos com motivações ideológicas,
respaldadas em parte por orientações da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que, infelizmente,
continua sensivelmente motivada por um viés político
e ideológico.
Por fim, é importante reconhecer que o nosso
equilíbrio fiscal há muito também é pressionado pelos
chamados custos tributários, que são renúncias fiscais
que beneficiam setores ou empresas específicas. O
Brasil precisa desenvolver um grande esforço para
tornar a economia mais competitiva e não subsidiar
uns ou outros, mais próximos ao poder ou com maior
capacidade de lobby, porque isso significa desviar
recursos que poderiam ser investidos para eliminar
gargalos do país, beneficiando a todos. Não
desmerecendo a importância dos esforços para
preservar empregos, a renovação recente do benefício
da desoneração da folha para os conhecidos 17
setores é exemplo típico, em prejuízo de outros que
empregam tanto quanto, mas não têm a mesma
capacidade de pressionar o Congresso Nacional. No
fundo, são os parlamentares apontando quem deve
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CORREIO BRAZILIENSE / DF - OPINIÃO - pág.: A11. Qua, 16 de Fevereiro de 2022
REFORMA TRIBUTÁRIA
vencer, e não as forças do mercado. É torcer para não
quererem resgatar os campeões nacionais.
A prioridade deve ser o aumento da competitividade
do país, para resgatar a força que o Brasil já teve nas
cadeias produtivas de maior valor agregado. A
pandemia soltou mais um cavalo encilhado que está
passando. Vamos conseguir montá-lo?
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