Ato de lançamento da pré-candidatura reúne apenas nomes do PDT; sob desconfiança interna, ex-ministro diz que disputa ‘para valer’
Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – No lançamento de sua pré-candidatura à Presidência, ontem, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) fez um discurso incisivo e prometeu, se eleito, acabar com o teto de gastos públicos, revisar a reforma trabalhista, taxar grandes fortunas, tributar lucros e dividendos. O pedetista também reiterou a proposta de acabar com o instrumento da reeleição no País.
Isolado e sem alianças partidárias encaminhadas até o momento, o PDT lançou a pré-candidatura de Ciro em Brasília, em um evento que contou apenas com a participação de líderes do próprio partido. O PDT evocou a imagem de Leonel Brizola e se referiu aos 100 anos que o político gaúcho completaria hoje para apresentar seu pré-candidato como um “rebelde”.
LEIA TAMBÉM
Ciro contorna resistências, mas se lança à Presidência sob desconfiança no PDT
Ciro contorna resistências, mas se lança à Presidência sob desconfiança no PDT
“Quero ser o presidente da rebeldia e da esperança”, afirmou Ciro, numa referência ao slogan da campanha, produzido pelo marqueteiro João Santana. “Estão pensando o quê? Isso é para valer!”, disse ele em um recado para deputados do PDT que o pressionaram para que desistisse da disputa.
PUBLICIDADE
ctv-cyy-61759577
Evento de lançamento da pré-candidatura de Ciro Gomes contou apenas com a participação de líderes do próprio partido. Foto: Dida Sampaio/Estadão
Em quase uma hora de pronunciamento, o ex-ministro dirigiu fortes críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ex-juiz Sérgio Moro (Podemos). Ciro vinculou Lula a Bolsonaro, a quem acusou de praticar genocídio na pandemia de covid-19. O foco das críticas foi a economia, tema que tem dominado o debate entre os principais pré-candidatos na disputa deste ano.
“Seria exagero dizer que os presidentes, apesar de diferentes em muitas coisas, foram iguaizinhos em economia, e que o modelo econômico que copiaram uns dos outros nos trouxe a este beco sem saída?”, provocou o ex-ministro de Lula e também de Fernando Henrique Cardoso.
‘Irresponsabilidades'
Depois, em entrevista, Ciro afastou a possibilidade de apoiar o petista em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. “Eu ajudei o Lula em todas as eleições. Será que existiria o Bolsonaro se não fosse a contradição econômica, social e moral do Lula? Eu não posso ficar de novo sustentando as irresponsabilidades do Lula.”
Em sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, Ciro disse que, se eleito, acabará com o teto de gastos, medida adotada durante o governo do ex-presidente Michel Temer, em 2016, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Ele criticou a regra por excluir as despesas com o pagamento de juros da dívida pública e reduzir os investimentos. “Prometo, portanto, acabar com essa ficção fraudulenta chamada teto de gastos e colocar em seu lugar um modelo que vai tocar o Brasil adiante sem inflação e com equilíbrio fiscal verdadeiro.”
ctv-osm-61759535
Slogan da campanha de Ciro Gomes, produzido pelo marqueteiro João Santana, cita 'rebeldia' e 'esperança' Foto: Dida Sampaio/Estadão
Ao direcionar ataques a Moro, Ciro prometeu encaminhar uma proposta de reforma do combate à corrupção a ser debatida a partir de março deste ano, antes da campanha. “Não haverá espaço para estrelismos e efeitos especiais nem espetáculo para conquista de plateias ou, pior, de eleitores”, disse o pré-candidato, classificando o adversário do Podemos como um caso “de glória efêmera como juiz e agora candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparo”.
O que Ciro propõe implantar no governo, se eleito, é o que chama de Plano Nacional de Desenvolvimento. Para isso, diz estar disposto a fazer alianças com quem concordar em mudar o atual modelo econômico do País.
Em uma tentativa de atrair a líder da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, para compor a chapa como candidata a vice, Ciro Gomes afirmou que a ex-ministra tem “todos os dotes para ser uma presidente do Brasil” (mais informações nesta página). Ressalvou, no entanto, que “é cedo” para falar em vice.
O pré-candidato disse estar disposto a propor um conjunto de reformas para aprovação no Congresso e plebiscito, incluindo o fim da reeleição. Na economia, defendeu uma política para acabar com o déficit fiscal, ou seja, garantir que o governo arrecade mais do que gasta, mas abandonado o chamado tripé macroeconômico (meta de inflação, meta fiscal e câmbio flutuante). Nesse sentido, prometeu cobrar impostos sobre os lucros e dividendos, taxar grandes fortunas e acabar com o que chamou de "festival de desonerações sem controle e sem retorno”.