Demonstrações recentes sobre o que pode ser o programa econômico defendido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha deste ano tem gerado reações e críticas de presidenciáveis, economistas e outros líderes políticos.
Na terça-feira, Lula e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, elogiaram o governo espanhol por ter revogado mudanças na legislação trabalhista da Espanha. Aprovada em 2002, a lei serviu de modelo para a reforma trabalhista brasileira de 2017, já no governo do presidente Michel Temer.
Nesta quarta-feira, o ex-ministro do Planejamento e da Fazenda Guido Mantega publicou um artigo na “Folha de S.Paulo” em que defende o legado dos governos do PT. Embora o texto alerte que não “reflete o ponto de vista da candidatura Lula”, Mantega defente que a inflação deve ser mantida sob controle, que a indústria deve ser retomada e que uma reforma tributária aumente a carga dos mais ricos.
A publicação do artigo repercutiu no meio político. Presidenciáveis e outros líderes criticaram a “matriz econômica” de Mantega e lembraram o fato de que os biênio 2015-2016, já durante o governo Dilma Rousseff, ficou de fora da análise do ex-ministro. Neste período, a economia começou a apresentar resultados negativos.
Ao analisar o artigo, o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central, citou pontos do artigo de Mantega que não estão acurados. Ao comentar trecho em que Mantega afirma que “uma herança maldita fará com que o PIB de 2022 retroceda para os valores de 2013”, Schwartsman lembra que em 2015 o PIB já era inferior ao observado em 2012. “Nos 12 meses encerrados em junho de 2016, ainda sob o governo Dilma, o PIB era menor que o de 2011”, escreveu o economista.
O secretário de Projetos e Ações Estratégicas do governo de São Paulo, Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, um dos artífices da reforma trabalhista, também criticou as manifestações do PT. “Acho interessante que as pessoas ficam tão preocupadas em discutir a revogação da reforma trabalhista, mas não estão preocupadas em gerar empregos para milhões de desempregados e subempregados no Brasil”, afirmou.
Com relação ao artigo de Mantega, disse que “a recessão gerada pela matriz econômica do governo Dilma desapareceu das análises do ex-ministro”.
Presidenciáveis também se manifetaram. Ciro Gomes (PDT) afirmou que o artigo é “uma das peças mais hipócritas e ambíguas já vistas”. Sérgio Moro (Podemos) lembrou que Mantega foi reconhecido como “Pós-Itália” nas planilhas que seriam vinculadas ao pagamento de propina da Odebrecht: “Impressão minha ou Pós-Itália nega ou omite que a nova matriz econômica (agora será a novíssima?!) gerou a grande recessão de 2014-2016 durante o Governo do PT?”
Luiz Felipe D’Avila (Novo) afirmou que o texto de Mantega mostra que o PT vai “repetir os mesmos erros” do passado.
Até Orlando Silva (PCdoB), aliado dos petistas, reagiu nas redes sociais. “A boa (notícia) é a edição do jornal dizer que o texto pode não ser pensamento de Lula, mas de assessores. Oxalá seja apenas mal-assombração!’