Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos apontou vínculos entre políticos estabelecidos nos cinco continentes e cerca de mil offshores
AGNIEZKA KUMOR
GAËTAN PLENET
RFI RFI
Paris (França)
Cinco anos após o escândalos dos Panamá Papers expor contas milionárias em paraísos fiscais, uma nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) volta a agitar o mundo político. A partir de milhões de documentos confidenciais, os Pandoras Papers mostram chefes de Estado e importantes políticos dos cinco continentes que guardam grandes somas de dinheiro em países em que podem esconder suas fortunas sob o nome de empresas opacas e ainda pagar taxas baixas de impostos.
Para o advogado especialista em direito tributário internacional, Alfred Lortat-Jacob, este novo escândalo revela um mercado global em que a sonegação fiscal de grandes quantias virou negócio.
“Há uma verdadeira competição entre estes centros de offshore para atrair o máximo de capital possível. Dubai, Singapura, Hong Kong, são todos locais com grande capacidade de atrair capital em um contexto de fraude fiscal, o que é proibido, ou ainda de otimização fiscal, o que não é proibido. [Estes países] implementaram sistemas legislativos com taxas de impostos relativamente atrativas, mas sobretudo com mecanismos de transmissão da informação fiscal muito opacos”, explica o advogado.
“A tecnologia digital torna possível criar uma empresa em qualquer lugar do mundo em poucos cliques para transferir fundos... Este modelo econômico sempre existiu, o que há de novidade é esta característica global do sistema, estamos testemunhando uma espécie de globalização da fraude”, afirma Alfred Lortat-Jacob.
Onde homens públicos e criminosos se encontram
A partir do vazamento de 12 milhões de documentos confidenciais reunidos em 14 escritórios especializados na criação de empresas offshores em paraísos fiscais, a investigação do ICIJ conseguiu estabelecer vínculos entre 336 políticos ou altos executivos estabelecidos nos cinco continentes e cerca de mil offshores.
Lortat-Jacob destaca que, nesses paraísos fiscais, a empresas criadas para lavar dinheiro para criminosos mas também para guardar recursos de figuras públicas e homens políticos. “O ponto em comum são montantes de dinheiro imensos. A fraude fiscal interessa a todos”, pontua.